Como montar um projeto de empregabilidade para pessoas LGBTI+?

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Parte 1 – Antes de pensar em soluções, precisamos entender o problema

Você já tentou montar um projeto de empregabilidade para pessoas LGBTI+ e sentiu que faltava alguma coisa? Talvez porque faltava escuta. Faltava dado. Faltava entender o real tamanho do problema.

A gente sabe que ser LGBTI+ ainda é um fator de exclusão brutal no mercado de trabalho e isso fica ainda mais grave quando falamos de pessoas trans, travestis, com deficiência, negras, neurodivergentes ou em situação de vulnerabilidade social.

Este artigo é o primeiro de uma série com reflexões práticas e caminhos possíveis para organizações do terceiro setor que querem criar projetos de empregabilidade verdadeiramente inclusivos. Hoje, começamos pelo óbvio que muita gente ainda ignora: o problema é estrutural.

Estereótipos de gênero ainda decidem quem “merece” trabalhar

Pessoas trans e travestis são constantemente julgadas e descartadas com base em estereótipos. A expectativa de que uma mulher trans tenha aparência “feminina” o suficiente ou que um homem trans performe uma masculinidade cisnormativa limita, sabota e expulsa essas pessoas de espaços profissionais.

Mesmo quando conseguem um emprego, enfrentam:

  • Hostilidade no ambiente de trabalho;
  • Falta de acesso a direitos básicos (como plano de saúde ou licença remunerada);
  • Assédio moral e piadas “disfarçadas de humor”.

E o impacto não é só emocional. Estudos e a própria pesquisa que conduzi mostram que essas violências afetam produtividade, permanência e crescimento profissional. Quando a porta se abre, ela já está quebrada.

Viés e violência: duas faces do mesmo problema

Uma coisa que precisamos deixar clara nos nossos projetos é a diferença entre viés inconsciente e violência direta. Viés é quando a pessoa acha que está sendo justa, mas está reproduzindo um preconceito aprendido. Violência é quando ela age conscientemente para excluir, ofender ou sabotar.

Ambas causam danos. E ambas precisam ser enfrentadas com ações diferentes:

  • Para o viés: formação, sensibilização e monitoramento.
  • Para a violência: tolerância zero, protocolos claros e responsabilização.

A falta de dados é um desafio real

Enquanto nos EUA já existem pesquisas com mais de 30 mil jovens LGBTI+ sobre saúde mental, no Brasil ainda estamos tateando no escuro. A ausência de dados robustos sobre diversidade de gênero e orientação sexual compromete o desenvolvimento de políticas públicas e de projetos no terceiro setor.

Esse foi um dos principais motivos para eu fazer minha própria pesquisa em abril. Precisamos de números, mas mais que isso: precisamos de escuta qualificada e comprometida com a mudança.

O que essa realidade tem a ver com o seu projeto?

Tudo. Porque se você ignora essas barreiras na hora de planejar um programa de capacitação, mentoria, contratação ou formação profissional, você está replicando um modelo que só serve para quem já tem privilégios.

Você quer fazer diferente? Então comece se perguntando:

  • Meu projeto reconhece e trabalha os impactos do estigma de gênero e orientação sexual?
  • A metodologia que uso dá conta das especificidades das travestis, dos homens trans, das pessoas não-binárias?
  • Estou escutando essas pessoas com respeito e abertura real?

Se a resposta for “não sei”, esse é o momento de investigar. E essa série está aqui para te ajudar nesse processo.

No próximo artigo…

Vamos falar de caminhos possíveis: como montar um projeto de empregabilidade que respeite a diversidade e promova inclusão de verdade. Vamos olhar para metodologias, escuta ativa, personalização dos processos e muito mais.

Se você trabalha no terceiro setor e quer criar impacto social real, te convido a acompanhar essa série. A mudança começa no papel, mas precisa chegar na vida das pessoas.

Até lá! 💬 Me conta nos comentários: qual a maior dificuldade que você já enfrentou ao criar projetos para públicos LGBTI+?

Judá Nunes é parte do time que coordena os projetos de impacto e inclusão produtiva da TODXS. Há 9 anos trabalha com inovação social, especializou-se em Educação para Inclusão da Diversidade e em 2022 foi reconhecida como LinkedIn Top Voices Orgulho. Travesti e educadora, tem forte presença como gestora de projetos no terceiro setor, como conselheira do setor público e como consultora no setor privado. Foi destaque como mentora de um novo tempo, oferecendo insights sobre a dinâmica da diversidade no século XXI.

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