Por que precisamos falar sobre saúde mental LGBTI+?

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A cada ano, milhares de jovens LGBTI+ no Brasil enfrentam um cenário de exclusão, violência e falta de políticas públicas adequadas. Esse ambiente hostil gera consequências graves para a saúde mental e aumenta o risco de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas.

Dados sobre a comunidade LGBTI+

Dados globais de diferentes estudos mostram que cerca de 52% dos jovens LGBTI+ já se automutilaram, contra 35% de jovens cis héteros; pessoas trans apresentam taxas mais altas de problemas de saúde mental do que pessoas cisgêneras LGB; 44% das pessoas LGBTI+ pensaram em suicídio, contra 26% de cis héteros; 92% dos jovens trans tiveram pensamentos suicidas e 84% se automutilaram.

Fonte: Agência Brasil

Quando a sociedade marginaliza, nega direitos ou silencia vozes, ela contribui para que pessoas LGBTI+ vivam em alerta constante. Sem acolhimento, a saúde mental se deteriora — e a falta de apoio adequado pode custar vidas.

Falar sobre saúde mental LGBTI+ é o primeiro passo para salvar vidas e cobrar mudanças estruturais.

Setembro Amarelo

O setembro amarelo surge a partir da história de Mike Emme, um jovem estadunidense que cometeu suicídio em 1994. A cor está relacionada ao carro do rapaz, que era ágil com mecânica, fazendo com que seus familiares – após sua partida – fundassem o programa Yellow Ribbon (Fita Amarela).

Segundo o Ministério da Saúde, 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, como a depressão. Esta se expressa de várias formas, como: desinteresse, apatia, choro frequente, baixa autoestima, entre outros sinais que podem te colocar em um quadro depressivo.

Fonte: TJES

Setembro Amarelo no Brasil

Em 2013, Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP, deu destaque e incluiu no calendário nacional a campanha internacional Setembro Amarelo. Desde 2014, a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), em parceria com o CFM (Conselho Federal de Medicina), divulgam a campanha por todo o país.

10 DE SETEMBRO É OFICIALMENTE O DIA MUNDIAL DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO.

Na década passada, de 2010 a 2019, houve um aumento significativo nos casos de suicidio ao redor do país; saindo de 9.454 em 2010 para 13.523 em 2019. A maior porcentagem de casos de suícidio está entre os jovens, dos 15 aos 29 anos de idade.

Órgãos governamentais, tais qual a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, indicou que o risco de morte por suicídio se deu em todas as regiões do país, mas que o Sul e o Centro-Oeste são os lugares com maior porcentual de casos.

Há estimativas de que a cada 38 pessoas que tiram suas próprias vidas, há até 20 tentativas frustradas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A Organização chegou a propor algumas estratégias para diminuir o risco de suícidio, como a restrição ao acesso a armas de fogo, redução da quantidade de remédios por embalagem e instalação de barreiras em locais de risco conhecidos por suicídio.

Fonte: Conselho Federal de Medicina

Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou dados relacionados ao suicídio e fez um apelo para que os países trabalhem na redução das taxas até 2030.

No mundo são: 700 mil casos por anos sendo que 79% ocorrem em países de baixa e média renda.

No Brasil são: 14 mil casos por anos sendo 38 mortes por suicidio a cada dia.

O que fazer para diminuir ou evitar estes números?

Procure ajuda! Falar é o primeiro passo.

Se você ou alguém que conhece está passando por um momento difícil, saiba que não está só!

Falar sobre suicídio é muito delicado e é um tema sensível para muitas pessoas, mas temos que lembrar que cada suicídio traz uma perda enorme para as pessoas amigas, familiares e para a comunidade inteira.

Com ações compreensivas e cuidadosas existe uma possibilidade de prevenir o suicídio. Para ajudarmos, é preciso reconhecer os sinais de alerta, conhecer os fatores de risco e os fatores de proteção e, a partir disso, ajudar em ações preventivas que envolvam políticas públicas, profissionais de saúde e, especialmente, a comunidade e as pessoas de maneira geral.

Caso você seja ou conheça uma pessoa que tem ideações ou comportamentos suicidas, é necessário que alguns cuidados sejam tomados. Lembrar que não estamos sozinhes nessa luta diária que chamamos de vida é um primeiro passo, mas procurar por profissionais especializados pode ser o que te ajude a sair de um período depressivo.

Sinais de alerta:

  • Falas frequentes sobre morte, morrer ou suicídio
  • Comentários sobre sentir-se sem esperança, sem valor ou sem sentido de vida
  • Aumento de consumo de álcool ou drogas
  • Isolamento social e solidão
  • Mudanças drásticas de humor ou comportamento
  • Despedidas e doação de bens pessoais
  • Acesso a armas ou meios letais
  • Envolvimento incomum em riscos

Principais fatores de risco:

  • Tentativa prévia de suicídio
  • Histórico de abuso de substâncias, como álcool ou outras drogas
  • Histórico de transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia ou dependência química
  • Perda recente de pessoa próxima
  • Problemas importantes de relacionamento
  • Dificuldade para aceitar a própria identidade de gênero ou orientação sexual

Principais fatores de proteção:

  • Vínculos saudáveis interpessoais, familiares e sociais
  • Ambiente familiar e de trabalho acolhedores
  • Capacidades pessoais de resolução de problemas e conflitos
  • Envolvimento em atividades sociais
  • Acesso à serviços de saúde mental
  • Detecção e tratamento precoce de transtornos mentais
  • Contexto social com proteção aos Direitos Humanos
  • Acesso a condições básicas de vida como alimentação, habitação, educação, trabalho, assistência social, entre outros.

Fonte: UFMS (Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

Como ajudar?

Realizar ações para prevenir o suicídio é uma preocupação para toda a sociedade. A maneira de agir depende da situação identificada, que pode ser desde uma conversa acolhedora até buscar serviços de urgência e emergência.

Profissionais de saúde mental são habilitados para atender as pessoas em risco ou em sofrimento, mas ainda assim, não substituem a presença e apoio das pessoas próximas. Falar com alguém sobre suicídio pode ser difícil, mas a melhor maneira de ajudar é conversando com a pessoa, falar sobre não vai influenciar a pessoa a pensar ou cometer suicídio. Na verdade, dar oportunidade da pessoa expressar seus sentimentos pode aliviar o isolamento e os sentimentos negativos reprimidos e pode, com isso, reduzir o risco de suicídio. E não há um jeito certo de dizer que se importa.

Como iniciar uma conversa?

Aproxime-se:

  • Pergunte genuinamente como a pessoa está se sentindo.
  • Diga que percebeu que a pessoa não está bem.
  • Se disponha a conversar.
  • Pergunte o que pode fazer para ajudar.
  • Se a pessoa não está pronta para falar, você pode dizer que está ali para ajudar e a pessoa pode te procurar quando quiser conversar.

Ouça:

  • Procure deixar a pessoa confortável para falar.
  • Tente entender a pessoa antes de fazer qualquer sugestão.
  • Não julgue ou ofereça soluções simplistas. Evite frases prontas como “vai ficar tudo bem” ou “a vida é boa”, que podem soar como minimização do sofrimento.
  • Não se desespere. Sua própria ansiedade pode tensionar você a tentar resolver a situação, mas na maioria das vezes, a melhor ajuda que você pode oferecer é ouvir atentamente.

Conecte-se:

  • Se disponha a ajudar e a procurar ajuda profissional em saúde mental.
  • Continue se interessando mesmo depois que a pessoa iniciou algum acompanhamento de saúde.
  • Não tenha medo de admitir que não tem alguma resposta.
  • Não tenha medo de perguntar se a pessoa pensa em suicídio, isso não vai incentivar a pessoa a cometer esse ato.

Proteja:

  • Mantenha a pessoa segura se ela está em crise.
  • Reduza o quanto puder o acesso a meios letais.
  • Não deixe a pessoa sozinha e procure ajuda.
  • O SAMU (192) e o Corpo de bombeiros (193) são preparados para atuar em situações de urgência e emergência.

Conversando com alguém quando você tem pensamentos ou intenções suicidas:

Pensar em suicídio pode ser assustador. Talvez seja a primeira vez ou esses pensamentos já estão por aí há um tempo e você não sabe o que fazer ou como encontrar ajuda. Você pode sentir vergonha de falar sobre seus pensamentos ou temer que as pessoas julguem ou não levem você a sério, mas falar com alguém que confia e se sente confortável é importante para encontrar a ajuda que você precisa.

Converse com alguém sobre como você se sente:

  • Converse com alguém que te deixe confortável e em quem você confia, como alguém da família, uma pessoa amiga ou profissional de saúde.
  • Trate a conversa como uma conversa comum, afinal, pedir ajuda é algo normal. Você pode descrever o que está acontecendo, como se sente e que tipo de ajuda você precisa. Tente explicar tudo, assim a pessoa pode entender você.
  • Se prepare para a reação das pessoas. Ao ouvir sobre pensamentos suicidas, algumas pessoas podem ficar confusas ou emocionadas a princípio. Continue conversando e juntes vocês podem encontrar ajuda.
  • Peça ajuda para encontrar atendimento em saúde mental.
  • Entenda que as pessoas se importam. É importante ter ajuda de pessoas próximas e se você diz a elas que pensa em suicídio, não espere que elas mantenham segredo. Elas vão tentar ajudar e isso significa pedir ajuda a outras pessoas.

No caso de você ser uma pessoa com ideação suicida:

  • Respire fundo e se encoraje a se recuperar;
  • Busque ajuda imediata por meio do CVV ou do 192 (SAMU);
  • Converse com alguém de sua confiança em privacidade sobre o que você está sentindo;
  • Se você está preocupade com sua própria segurança, remova objetos que possam ser usados para se ferir, como armas de fogo, medicamentos ou objetos afiados;
  • Busque auxílio de um profissional da saúde mental para criar estratégias para lidar com momentos de crise (ligar para ume amigue, familiar ou linha de prevenção ao suicidio);
  • Estabeleça pequenos objetivos e foque em pequenos passos, isso ajuda a criar um senso de propósito.

Diante de uma pessoa sob o risco de suicidio:

  • Encontre um momento e local apropriados (mostre que está disponível para ouvir e ofereça apoio);
  • Incentive a busca de ajuda profissional em serviços de saúde mental ou emergência e ofereça acompanhamento;
  • Mantenha contato para acompanhar o bem-estar da pessoa e monitorar suas atividades;
  • Se houver risco iminente, não deixe a pessoa só! Busque ajuda profissional e contate alguém de confiança, indicado pela própria pessoa;
  • Se a pessoa vive com você e você está preocupade, assegure-se de que essa pessoa não tenha acesso a meios letais em casa (por exemplo: pesticidas, armas ou medicamentos).

Fonte: Ministério da Saúde

Recomendações para buscar atendimento:

  • Centros de Referência LGBTI+
  • Centro de Referência da Assistência Social (CRAS)
  • Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS)
  • Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
  • Secretarias Municipais de Desenvolvimento Social ou de Direitos Humanos
  • Instituições de ensino dos cursos de psicologia (universidades públicas, universidades estaduais, PUCs, Unieuro, Anhanguera, dentre outras)
  • Instituições de especialização em abordagens de psicologia (psicanálise, terapia sistêmica, psicodrama, TCC, dentre outras)

CONHEÇA O MOPS!

Mapas Estratégicos para Políticas de Cidadania (MOPS) é um portal de acesso livre que reúne e organiza informações sobre a disponibilidade de serviços, equipamentos públicos e programas sociais identificados em municípios, microrregiões e estados no país.

No site é possível visualizar a localização e o contato dos equipamentos da assistência social, entre outros, obter relatórios socioterritoriais com base nas informações do Cadastro Unico e do Censo Demográfico.

Acesse: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/mops/ (ou procure MOPS no Google e entre no 1° site)

CONHEÇA O CVV

Fundado em São Paulo em 1962, o CVV – Centro de Valorização da Vida é um serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

Oferece atendimento pelo telefone 188 (24 horas e sem custo de ligação), por chat, e-mail e pessoalmente. Nestes canais, são feitos mais de 2,7 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 3.300 voluntários, presentes em 20 estados, além do Distrito Federal.

Se precisar de ajuda, não hesite em ligar.

CVV – 188

Serviços públicos disponíveis:

Os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), oferecem atendimento psicológico gratuito ou de baixo custo, além de encaminhamento para programas especializados quando necessário.

Você não está só!

Vivemos em comunidade. Esse apoio da comunidade é o que nos leva a ter um lugar seguro para voltar e conversar sobre o que dificulta nossa jornada. É importante lembrar que você tem um lugar para onde ir, mesmo nos tempos mais difíceis – e se não tiver, está tudo bem, este lugar pode ser criado. 

A depressão e outros transtornos mentais podem parecer difíceis de serem carregados, mas quando percebemos a importância da coletividade dentro do nosso dia-a-dia, com apoio multiprofissional especialmente, podemos viver uma vida com mais leveza. A TODXS espera que neste setembro amarelo, possamos comemorar a vida e a luta de todes que ainda estão aqui, além dos que já se foram.

Compartilhe este artigo. Essas informações podem ser o caminho para que alguém peça ajuda no momento certo.

Por: Rô Vicentte , Whalas de Almeida Rocha e Dante Zapparoli Camilo

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