Dia da Visibilidade Bissexual: história, desafios e boas práticas

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No dia 23 de setembro, comemoramos o Dia da Visibilidade Bissexual, criado há 26 anos como um marco para o reconhecimento da bissexualidade e o acolhimento das pessoas bi+, que muitas vezes têm suas identidades questionadas ou apagadas.

Neste post, aprofundamos o tema da visibilidade bissexual, mostrando sua importância, o histórico do movimento e como combater a bifobia, especialmente no ambiente corporativo.

A frase comum “é quem se atrai por homens e por mulheres” simplifica demais o universo da bissexualidade.

A definição mais conhecida e mais completa foi criada em 1996 pela ativista bissexual Robyn. Segundo ela, ser bissexual é se atrair romanticamente e/ou sexualmente por pessoas de mais de um gênero – não necessariamente ao mesmo tempo, não necessariamente da mesma maneira e não necessariamente na mesma intensidade. Mas, sabia que bem antes de Ochs, a bissexualidade já havia ganhado um manifesto para chamar de seu?

Ele é um texto bem curto e simples, publicado em 1990 na revista “Anything That Moves”. Nele, considerado até hoje um dos grandes marcos para os estudos bissexuais, são apresentados pontos que guiam o movimento bissexual e que ainda permanecem atuais:

  • A imposição frequente e frustrante da escolha entre ser heterossexual ou homossexual;
  • A identificação da bissexualidade enquanto não binária (atração por pessoas cis, trans e de outras identidades de gênero;
  • Demonstra que a bissexualidade não é confusão, promiscuidade e infidelidade;
  • Chama a atenção para que as vozes bissexuais sejam ouvidas.

A pergunta acima pode parecer estranha, mas você sabia que a bissexualidade é composta por diferentes identidades?

Todas elas têm algo em comum: a atração por mais de um gênero.

Por isso, o melhor é utilizar o termo bi+, com o símbolo de soma, para acolher as diversas identidades da família bissexual.   Assim, se você é bissexual, pansexual, polissexual, assexual birromântico, entre outros, sinta-se acolhide, pois 23 de setembro é o seu dia.  

Mencionamos que pessoas pansexuais também são acolhidas pelo mesmo guarda-chuva representado pelo termo bi+. No entanto, ainda existem dúvidas sobre as diferenças entre esses termos. Por exemplo, algumas ideias comuns dizem: “Bissexuais sentem atração apenas por homens e mulheres cis, enquanto pansexuais também se atraem por pessoas trans” e “Pansexuais têm atração igual por todos os gêneros, enquanto bissexuais sentem mais por um do que por outro”.

Para esclarecer, podemos desconstruir isso de forma simples: a bissexualidade, segundo o Manifesto Bissexual, engloba a atração por pessoas independentemente do gênero, ou seja, não se limita ao binário homem/mulher.

Além disso, como já dizia Robyn Ochs, a intensidade da atração por um gênero ou outro pode variar, e isso é totalmente normal. Assim, a bissexualidade e pansexualidade compartilham muitas características, portanto, a escolha entre uma ou outra denominação depende de qual delas faz a pessoa se sentir mais acolhida e confortável.

O movimento bissexual organizado surgiu durante a Revolução Sexual, nas décadas de 1960 e 1970. Naquela época, havia uma busca por:

  • Romper com a moral sexual tradicional;
  • Criticar a repressão de instituições religiosas, jurídicas e médicas;
  • Propor novas formas de viver a sexualidade.

No entanto, mesmo nesse ambiente de liberdade, pessoas bi+ já sentiam o peso da exclusão dentro da luta política, justamente por sua atração por pessoas de diferentes gêneros.

Como forma de encontrar seu espaço, surgiram organizações importantes, como:

  • National Bisexual Liberation Group (1972)
  • Bi Forum (1975)
  • San Francisco Bisexual Center (1976)

Posteriormente, outros momentos marcaram a trajetória do movimento:

  • 1990: publicação do Manifesto Bissexual, um documento marco na luta por visibilidade;
  • 1995: fundação do grupo CORSA no Brasil(Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor) pioneiro no reconhecimento das pessoas bi+ como integrantes fundamentais do movimento LGBTI+;
  • 1999: criação do Dia da Visibilidade Bissexual. Em 23 de setembro, durante a 22ª Conferência da ILGA (International Lesbian and Gay Association), ativistas como Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur propuseram um dia dedicado à luta bissexual e ao combate à bifobia. A data foi escolhida em memória do aniversário de morte de Sigmund Freud, um dos primeiros pesquisadores das identidades bi+.

Outras datas importantes incluem:

  • 2005: criação do CBB (Coletivo Brasileiro de Bissexuais) após a tentativa de exclusão do B no II Encontro Paulista GLBT;
  • 2017: realização da 1ª Caminhada do Orgulho e Visibilidade Bissexual na Rua Augusta, em São Paulo;
  • 2023: o grupo GAEBI (estudantes de psicologia do Pará) se expande e se torna a REBIM (Rede Brasileira de Estudos sobre Bissexualidade e Monodissidência), voltada para pesquisas e organização política.
  • Sylvia Rivera: junto a Marsha P. Johnson, foi uma das figuras icônicas da Revolta de Stonewall (1969). Ativista trans e drag queen latina, lutou pelos direitos das pessoas trans e exigiu que as paradas do orgulho as incluíssem. Embora pouco mencionada, dizia: “Eu não vivo no mundo hétero; eu não vivo no mundo gay.”
  • Brenda Howard: mulher cis estadunidense, criou em 1970 a primeira Parada do Orgulho LGBTI+ do mundo. Foi uma ativista fundamental, ajudando na criação da Aliança dos Ativistas Gays, popularizando a palavra “orgulho” nos protestos e fundando a New York Area Bisexual Network, dedicada à visibilidade bissexual.
  • Marielle Franco: mulher cis, negra e bissexual, vereadora do Rio de Janeiro, tornou-se símbolo da resistência negra e LGBTI+. Assassinada em 2017, deixou um legado de luta pelos direitos humanos e pela justiça social.
  • Inácio Saldanha: homem cis brasileiro, mestre e doutorando em Antropologia Social na Unicamp, com pesquisa voltada às vivências bi+. Foi um dos líderes na organização do 1º Encontro Nacional do Movimento Bissexual Brasileiro e criou o Museu Bissexual Brasileiro (MBB), contribuindo para a preservação e valorização da história bi+.

Você sabe o que é bifobia?

Para encerrar, vamos falar sobre a principal responsável pelo apagamento da bissexualidade: a bifobia. Mas o que exatamente ela é e como aparece no nosso dia a dia? Além de explicar isso, vamos mostrar formas de combatê-la e aumentar a visibilidade das pessoas bi+.

Desde que a bissexualidade existe, também existem violências explícitas e implícitas contra ela. Muitas vezes, isso surge por falta de conhecimento sobre o que significa ser bi+, mas ainda assim gera incômodos e sensação de não pertencimento.

A bifobia se manifesta tanto por pessoas heterossexuais quanto dentro da própria comunidade LGBTI+. Ela aparece quando a sexualidade de uma pessoa bi+ é desmerecida, por meio de falas como:

  • “Você é bissexual? Nunca te vi com pessoas de diferentes gêneros.”
  • “Você já namorou com pessoas de todos os gêneros para saber se é bi de verdade?”
  • “Beijo em festa não significa que você seja bissexual.”

Apesar de comuns, essas ideias estão enraizadas em estigmas que devem ser desconstruídos. E a boa notícia é que é simples:

  • Não é necessário se envolver com mais de um gênero para se reconhecer como bi+;
  • Relacionamentos com pessoas de um mesmo gênero não invalidam a bissexualidade;
  • Beijos em festas ou experimentações são naturais, muitas vezes ligados a espaços de liberdade que não existem no cotidiano.

A bifobia afeta todas as pessoas bi+, mas de formas diferentes. Entre homens e mulheres cis e trans, assim como pessoas não-binárias, surgem estigmas como:

  • Ser “confuso” sobre sua sexualidade;
  • A ideia de que a bissexualidade é apenas uma fase;
  • Suposição de infidelidade constante por ter mais opções de relacionamento.

Além disso, existem estigmas específicos:

  • Homens cis e trans: vistos como gays em fase de experimentação e associados historicamente à transmissão de ISTs;
  • Mulheres cis e trans: hiper sexualizadas e interpretadas como heterossexuais que “exploram” pessoas do mesmo gênero para agradar homens;
  • Pessoas não-binárias: bissexualidade associada à “confusão de gênero” e expectativa de se encaixar no binário hetero/homo.

A violência contra pessoas bi+ impacta diretamente a vida cotidiana, incluindo saúde mental e ambiente de trabalho. Alguns dados importantes:

  • Taxas de ansiedade mais altas entre homens e mulheres bissexuais;
  • Maior abuso de substâncias em comparação a gays, lésbicas e heterossexuais;
  • Apenas 1 em cada 5 pessoas bi+ tem sua sexualidade reconhecida no trabalho;
  • Pessoas bi+ evitam eventos corporativos por medo de discriminação.

Para além de apresentar os dados, é preciso agir para fortalecer a diversidade e inclusão. Algumas ações práticas incluem:

  • Convidar pessoas bi+ para palestras e workshops sobre diversidade;
  • Oferecer treinamentos para lideranças e equipes de RH sobre bifobia;
  • Garantir canais anônimos para denúncias específicas de bifobia;
  • Orientar a comunicação interna a mencionar explicitamente bissexualidade e bifobia;
  • Reconhecer no calendário oficial da empresa o Dia da Visibilidade Bissexual (23/09).

🌈 A bissexualidade não deve ser lembrada apenas em setembro. Ela precisa estar presente durante todo o ano, especialmente em datas de grande visibilidade, como o Mês do Orgulho, fortalecendo reconhecimento, respeito e inclusão.

A bissexualidade não deve ser lembrada apenas em setembro. É necessário promover visibilidade e inclusão durante todo o ano, reforçando respeito e combate a preconceitos.

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Texto por Iury Santos, integrante do time de imprensa da TODXS. Bacharel em Cinema e Audiovisual, atuou tanto nos campos práticos quanto teóricos: em sets de vídeos publicitários, na monitoria de projetos voltados para a capacitação da juventude de favela e como professor de ensino fundamental. Mestre em Comunicação pela UFF, escreve sobre mídia e representação LGBTI+, com foco na bissexualidade. Em sua dissertação, analisou a experiência de espectadores bissexuais com o Big Brother Brasil.

Edição textual por Evelyn Luna Reis

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